OS ENSINAMENTOS DE BUDA E O SOFRIMENTO HUMANO
Os quatro sofrimentos, de acordo com o budismo, são nascimento, doença, envelhecimento e morte. O budismo
surgiu para encontrar uma solução para essas questões.
E essa resposta é
fundamental para a conquista da felicidade absoluta.
Entenda o porquê.
O príncipe Sidarta Gautama - o início
Keanu Reeves como Sidarta Gautama em "O pequeno Buda". |
Sidarta Gautama (em sânscrito
सिद्धार्थ गौतम, transl. Siddhārtha Gautama),
popularmente dito e escrito simplesmente Buda, foi um príncipe da
região do atual Nepal que
se tornou professor espiritual, fundando o budismo.
Na maioria das tradições
budistas, é considerado como o "Supremo Buda" (Sammāsambuddha)
de nossa era. Buda significa "o desperto", “o
iluminado”.
Gautama, também conhecido
como Śākyamuni ou Shakyamuni ("sábio
dos Shakyas"), é a figura-chave do budismo.
Nasceu como príncipe herdeiro do clã Sakya, há mais de dois mil e
quinhentos anos, nas colinas ao sopé do Himalaia, na Índia. Sua mãe morreu após
seu nascimento e ele foi criado pela tia.
Apesar de viver em meio à riqueza, Sidarta possuía inteligência e
sensibilidade aguçadas e começou a refletir constantemente sobre o significado
da vida e do mundo procurando uma verdade eterna.
Aos 29 anos, saiu pela primeira vez dos domínios do feudo
onde vivia. Num passeio, viu um velho, um doente e um cadáver, tudo uma grande
novidade; pois no Feudo o sofrimento era escondido dele. "Se o destino
final do homem é o sofrimento e a morte, minha vida não faz sentido",
teria dito. Em novo passeio, conheceu um homem de manto e cabeça raspada - era
um monge. Agora, sim, seu destino estava selado. Naquela mesma noite, Gautama
fugiu do palácio para ser monge mendicante. Esses encontros
foram determinantes para sua decisão de renunciar ao mundo secular.
Os quatro sofrimentos
O homem idoso, o doente e o cadáver representavam
os sofrimentos de envelhecimento, doença e morte, que ao lado do nascimento, ou
da própria vida, são chamados de quatro sofrimentos.
O nascimento representa o início da manifestação
cármica; a doença, a agonia; o envelhecimento, a solidão; e, a morte, o medo.
Esses sofrimentos são inerentes à vida.
A busca por respostas
Sakyamuni, ao se confrontar com o nascimento, o
envelhecimento, a doença e a morte compreendeu o vazio do desejo humano e
percebeu que tudo estava sujeito a mudanças. Em consequência, ele renunciou ao
modo de vida no qual havia crescido e embarcou numa busca por respostas.
Como resultado, quando estava com aproximadamente
trinta anos, Sakyamuni meditava sob uma árvore numa localidade, posteriormente
conhecida como bodhigaya. Ali, finalmente ele
atingiu a iluminação, tornando-se o Buda ou o “Iluminado”, encontrando a chave para a
questão dos quatro sofrimentos.
O "caráter ilusório" das coisas do
mundo já estava presente na doutrina hindu, e Sakyamuni foi enfático em corroborá-lo. Mas, ao contrário dos líderes espirituais
do hinduísmo, jamais fez qualquer
comentário sobre a figura de Deus.
O budismo, assim, tornou-se uma raridade no
universo religioso: a única religião não teísta da história. Buda evitou o
debate tragicômico sobre a existência de Deus para se preocupar com questões
muito mais importantes para o despertar da humanidade. Ele dizia que essa
discussão não ajuda a eliminar o
sofrimento, finalidade primordial de seus ensinamentos.
Certa vez, Sakyamuni viu-se pressionado pelo monge Malunkyaputta, seu seguidor, que insistia
em perguntar-lhe sobre Deus. A resposta veio com outra pergunta: “ao ser
atingido por uma flecha envenenada, a primeira coisa a ser feita é descobrir
quem a atirou, por que, e que tipo de flecha é aquela, ou removê-la para tratar
o ferimento? Se você se preocupasse primeiro com todas essas respostas, disse o
Buda, morreria antes de encontrá-las."
A Lei Mística
Os quatro sofrimentos da vida são causados pelo
pensamento de que a pessoa existe separada do universo, sendo possível viver de
forma egocêntrica, baseada nos apegos pessoais e guiada pela indiferença em
relação ao sofrimento alheio. Ao basear sua
existência na vida cósmica que eternamente permeia o imenso universo, é
possível transformar os quatro sofrimentos em quatro nobres virtudes do Buda — eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.
A finalidade dos ensinamentos de Sakyamuni era
esclarecer esse único ponto.
Por que quatro sofrimentos?
O que torna o nascimento, o envelhecimento, a
doença e a morte um sofrimento é o apego ao externo. Os quatro sofrimentos provocam a separação e a
mudança de tudo que é mutável. Se a pessoa basear sua vida em fenômenos
mutáveis, sempre viverá num impasse e sofrerá.
A causa fundamental desse impasse é que o foco das
pessoas está totalmente direcionado para o mundo material e externo, deixando
de voltar a atenção para sua vida interior. Antes de mais nada, elas desviam
seus olhos dos sofrimentos universais de nascimento, envelhecimento, doença e
morte, os quais constituem os problemas fundamentais da existência humana.
Na verdade, não há nada mais certo do que o fato de
que um dia iremos morrer. Excluindo isso, tudo é incerto e sujeito a mudanças;
somente a morte é imutável. Ainda assim, as pessoas tentam se desviar desse
fato imutável. (...) a vida daqueles que carecem de uma correta compreensão
sobre a vida e a morte é igual à grama sem raízes. Não há dúvidas de que sem
uma perspectiva sobre a morte é impossível levar uma vida estável, firmada numa
sólida base.
Uma base sólida
Como os quatro sofrimentos são imutáveis e todas as
pessoas, sem exceção, passam por eles, a vitória sobre eles significa
centralizar a vida numa base sólida — e não em fenômenos
transitórios e mutáveis.
Ser derrotado interiormente significa ignorar os
quatro sofrimentos. A alegria por simplesmente estar vivo provém da resposta
que se obteve a essas quatro questões.
Vencer os quatro sofrimentos significa se tornar um
buda construindo um eu interior inabalável. É ser paz, mesmo diante do Caos. É
enxergar o mundo humano ilusório com os olhos de um observador. É como ver um
filme. Esse mundo é um filme – ilusório -
pois nossa verdadeira essência Divina não pertence à esse mundo. Essa
experiência humana é parte de nossa evolução espiritual, onde aprendemos a
controlar as vontades do Ego, para que ele sirva à nossa alma e não o
contrário. Como todas as pessoas enfrentarão essas questões, todos têm condição
de atingir o estado de Buda.
O apego é a causa do sofrimento
Mesmo que a pessoa desfrute de riqueza material,
boa saúde, harmonia familiar, se interiormente a vida não fluir de acordo com a
resposta para os quatro sofrimentos, ela sofrerá com o apego por suas
conquistas.
Esses quatro sofrimentos revelam o aspecto real do
curso da vida e cada um possui um profundo significado e valor. O ato de nascer e viver equivale ao ouro. Entretanto,
as pessoas são derrotadas facilmente pelas dificuldades, perdem a alegria de
viver e se arrastam como se estivessem carregando um fardo tão pesado quanto o
chumbo.
Não fuja da própria sombra
Buscar a solução dos quatro sofrimentos no poder,
na riqueza e na fama, acreditando serem eles a chave para se libertar da
realidade da vida, é como tentar fugir da própria sombra. Essa atitude reflete
a carência de uma verdadeira filosofia de vida.
Os conceitos primordiais do budismo estão
essencialmente em acordo com as pessoas. Segundo ele, todas elas têm de lidar
com os quatro sofrimentos não obstante o poder, a riqueza e a fama que possam
acumular.
AS 4 NOBRES
VERDADES
São elas:
1. O sofrimento existe.
2. O sofrimento tem suas causas.
3. É possível eliminar essas causas.
4. Existe um caminho para eliminá-las.
Essas verdades são semelhantes a uma receita
médica: diagnóstico da doença, a causa desta doença, o remédio para curá-la e a
receita de como tomá-lo.
É um método para crescermos espiritualmente que
nos ajudará a superar nossas ideias limitadas sobre nós mesmos e a abrir nosso
coração para sentir compaixão, bondade e ter uma melhor comunicação com o
outro.
A PRIMEIRA NOBRE
VERDADE: “O sofrimento existe”.
Esse é um ponto inicial da lógica
do Budismo: a constatação da existência do sofrimento e de que todos os
seres estão sujeitos a ele.
Entenda que não é uma filosofia pessimista nem
derrotista. Ela nos ensina que podemos despertar nossa sabedoria para não
sofrer com o sofrimento. Sair da ignorância de como o Universo funciona,
despertando através do conhecimento e sabedoria é a chave da transformação.
É difícil lidar com o sofrimento das
separações, do envelhecimento, das doenças, da morte. Sentimos como se não
fosse justo ou correto sofrer esses processos.
No entanto, se não houvesse o sofrimento não
seria preciso buscar a sabedoria e a coragem de superar a dor. É a consciência do sofrimento que gera a
energia da sabedoria e não o sofrimento
em si mesmo.
A dor em si não purifica nada. Sofrer sem sabedoria é acumular mais dor e
confusão. Para nos libertarmos de um sofrimento, temos que nos desapegar
dele. É importante transformá-lo em autoconhecimento, humildade, paciência.
Como disse Dalai Lama: “O sofrimento aumenta
nossa força interior”.
A SEGUNDA NOBRE
VERDADE: ‘O sofrimento tem suas causas”
Essa nobre verdade se refere à origem do
sofrimento.
A causa principal do sofrimento é ter uma visão incorreta da realidade: pensar que tudo pode durar para sempre. É não aceitar a impermanência da vida e das coisas.
A causa principal do sofrimento é ter uma visão incorreta da realidade: pensar que tudo pode durar para sempre. É não aceitar a impermanência da vida e das coisas.
Assim, surge o apego, a raiva e a ignorância,
que são três venenos mentais.
Interpretamos a realidade como positiva ou
negativa de acordo com nossas projeções mentais. O mecanismo da projeção
interfere nas circunstâncias de nossa vida e no modo como vemos as situações e
pessoas.
O sofrimento é causado pelo apego ao eu, pelo
interesse do nosso ego voltado para si próprio. A nossa aversão ao sofrimento
atrai negatividades e obstáculos, que trazem ansiedade nervosa, medos e
expectativas para nossas vidas.
É importante purificar essa mente voltada
somente para si mesma com todos seus apegos e desejos egoístas. É preciso
procurar manter um estado de relaxamento, de aceitação e abertura diante de
tudo e de todos.
TERCEIRA NOBRE
VERDADE: “É possível eliminar as causas do sofrimento”
Essa nobre verdade se refere à cessação do
sofrimento.
Podemos nos libertar do sofrimento. Não temos que ficar sofrendo para sempre. Desse modo, aceitamos o sofrimento para transformá-lo, e não como uma punição ou uma cruz que temos que carregar.
Podemos nos libertar do sofrimento. Não temos que ficar sofrendo para sempre. Desse modo, aceitamos o sofrimento para transformá-lo, e não como uma punição ou uma cruz que temos que carregar.
Lama Michel Rinpoche disse: “Sofrimento é ter apego à dor. Uma coisa é a
gente ter dor e sofrer com isso, outra é dizer: ‘Está doendo, mas por que vou
sofrer, passar mal? ‘ Dor e sofrimento são coisas diferentes. Uma coisa é a
gente ter dor, e outra é ter sofrimento. Você pode ter a dor e não achar que
ela é algo ruim, pode transformá-la”.
Podemos abandonar as emoções destrutivas e os
venenos da mente.
QUARTA NOBRE
VERDADE: “O Caminho para eliminar as causas do sofrimento”
Refere-se ao Nobre Óctuplo Caminho para a
extinção do sofrimento. É uma jornada de oito passos que devemos fazer com
nossa mente, corpo, fala e ações para superar o sofrimento.
As oito nobres atitudes ou passos corretos são:
1. Entendimento correto
2. Intenção correta
3. Fala correta
4. Ação correta
5. Modo de vida correto
6. Esforço correto
7. Concentração correta
8. Meditação correta
Esses sábios ensinamentos não podem ser apenas
entendidos intelectualmente, é preciso vivenciá-los. Senti-los como
experiências pessoais.
Não adianta apenas ler, assistir palestras ou ter uma compreensão intelectual sobre eles, pois pareceriam distantes e impossíveis de se realizar.
Não adianta apenas ler, assistir palestras ou ter uma compreensão intelectual sobre eles, pois pareceriam distantes e impossíveis de se realizar.
Desenvolver a aceitação dos acontecimentos é
uma grande sabedoria. Aceitação não é resignação ou acomodação, mas um ponto de
partida.
A consciência daquilo que é preciso aceitar
como real e inevitável pode ocorrer em nossa mente de imediato, porém a
aceitação emocional do mesmo fato pode demorar a acontecer. Intelectualmente
aceitamos o sofrimento, mas emocionalmente ainda relutamos em aceitar.
Posso compartilhar minhas experiências, mas
você precisa ter suas próprias experiências para alcançar os benefícios e
frutos da caminhada espiritual.
Contemple sobre essas nobres verdades e comece
a transformar-se. Tenha a resolução de dar os primeiros passos e siga adiante.
Fique em paz!
Namastê!
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